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domingo, 23 de outubro de 2011

Entre o politicamente correto e o baixo polemismo



Entre o politicamente correto e o baixo polemismo
Diogo Salles

Uma das discussões mais barulhentas e fratricidas dos tempos atuais é sobre a questão do politicamente correto. Quando se institucionalizou o politicamente correto, os autoproclamandos “defensores das minorias” deram um passo à frente e concederam a si mesmos o direito de policiar a sociedade, apontando dedos, incitando preconceitos e escolhendo quem era merecedor da execração pública. Não demorou muito para os tais “defensores” começaram a dar carteiradas com suas insígnias de patrulheiros. Daí a jogar humoristas de terceira e militantes neonazistas no mesmo balaio foi um salto.

Mas não pensem que a arte da patrulha é exclusividade brasileira, não. Se tem algo nesse mundo que não precisou da “globalização”, é a idiotice. Para ficar num só exemplo, que tal a censura à musica “Money for Nothing” no Canadá? Ficaram incomodados com a expressão “little faggot” (viadinho) na letra da música do Dire Straits. Só não perceberam que isso não era um ataque aos homossexuais, mas sim uma crítica aos posers do rock, que rebolavam na frente da câmera da MTV por dinheiro (daí o título da música). O Brasil também possui uma longa folha corrida nesses desserviços à sociedade. O caso mais recente foi a tentativa de censura ao comercial (bobo, repito) de lingerie estrelado por Gisele Bündchen. Escrevi uma tragi-crônica sobre o assunto — e pelos comentários que gerou, percebe-se que o assunto ainda provoca gastrites. Já nos quadrinhos, tivemos o inesquecível caso do livro Dez na Área, um na Banheira e Ninguém no Gol, mas nenhuma patrulha conseguiu ser mais caricata do que a sofrida por Mauricio de Sousa. Uns insinuaram que a Mônica estimula e violência com suas coelhadas. Outros, ainda mais cegos, viram preconceito racial no fato de o Cascão se recusar a tomar banho (esquecendo-se de que o personagem é branco). Cego é aquele que só consegue enxergar o que sua mente perturbada inventa…



Millôr Fernandes, lição 1: “O humor compreende também o mau humor. O mau humor é que não compreende nada.”

Terceira lei de Newton, Princípio da Ação e Reação. É aí que despontaram os autoproclamandos “politicamente incorretos”, se vendendo como um antídoto ao politicamente correto, posando de defensores da liberdade de expressão e do direito de fazer humor sem amarras. Quando os humoristas do stand up migraram para a TV aberta, reescreveram um roteiro que já virou clichê: se tornaram celebridades, ganharam confiança e perderam a noção da realidade. E tome “piadas” de estupro, de Holocausto e tudo o que tem direito. O que pouca gente parece ter notado é que uma parte dessa turma partiu para a polêmica fácil, deixando o humor de lado. A ofensa aberta, quando travestida de humor, dá uma falsa ideia de subversão e gera impacto. É triste constatar que, para o humor “funcionar” por aqui, precisa ser tosco, ofensivo e apelativo. Instituiu-se, não sei de onde, que o humorista só tem sucesso se conseguir gerar controvérsia, por mais gratuita e forçada que seja. Chegamos ao absurdo de ver humoristas no paredón sem sequer terem feito humor. Parece que só o que importa é estar lá, produzindo manchetes, ganhando seguidores e gerando “trending topics” no Twitter.

Millôr Fernandes, lição 2: “Você aí, companheiro de profissão: uma coisa é ser o rei dos palhaços, outra coisa é ser o palhaço dos reis.”

E assim ficamos: esmagados entre o politicamente correto e o baixo polemismo.  De um lado, os que querem censurar, reprimir e calar, se escondendo atrás do argumento de “criar limites para o humor” e “proteger os fracos e oprimidos”. Do outro lado, os que querem partir para a ofensa e a ignorância, se escondendo atrás do argumento de “defender a liberdade de expressão”. Essa é a nossa tradição. É 8 ou 80. Por aqui, passa ao largo a percepção de que o problema do politicamente correto é exatamente o mesmo problema do politicamente incorreto: os extremos. Para encerrar, vale lembrar que há, sim, vida inteligente no humor brasileiro, mas ele está longe da TV e dos “trending topics” do Twitter. O cartunista Arnaldo Branco tem uma teoria interessante: “Humor é elaboração, ofensa é instinto.” É isso. Mas além da elaboração, está faltando bom senso e, sobretudo, inteligência ao humor brasileiro. Afinal, a função primordial do humor é (ou deveria ser) a de fazer crítica política/social e debochar da sociedade, colocando um espelho na cara dela.  Mas enquanto o baixo polemismo prevalecer sobre o humor, os asnos continuarão saindo de suas cocheiras. E, infelizmente, não há nada que possamos fazer por enquanto…

Millôr Fernandes, lição final: “O humorismo é a quintessência da seriedade.”

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