Locanty doa a PMDB e recebe da Polícia Federal
BRASILIA, RECIFE e RIO - A Locanty Comércio e Serviços Ltda
- uma das empresas denunciadas por oferecer propinas para ganhar licitações na
área da saúde - doou mais de R$ 1,4 milhão para quatro campanhas eleitorais de
2010. Entre elas, três foram para políticos do Rio: o PMDB (R$ 1,3 milhão) e os
deputados estaduais Alcebíades Sabino (PSC) e Bebeto (PDT), que receberam R$ 50
mil cada. O candidato à presidência José Serra (PSDB) também recebeu
contribuição de R$ 50 mil. Apesar de o site Transparência Brasil informar que a
doação ao PMDB foi para a campanha de reeleição de Sérgio Cabral, a assessoria
do governador informou que esses recursos foram doados ao partido, a quem cabe
explicar o destino do repasse.
No estado, a Locanty já recebeu mais de R$ 7 milhões em 2012
das secretarias de Segurança, Casa Civil, Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente,
Transportes, Defensoria Pública e Tribunal de Justiça. As empresas Locanty,
Toesa, Rufolo e Bella Vista ofereceram propina a um repórter do
"Fantástico" que se passava por gestor no Hospital da UFRJ.
Outra curiosidade sobre a Locanty é que ela também presta
serviços para a Superintendência da Polícia Federal do Rio, responsável por
investigar a denúncia. Os contratos ultrapassaram o valor de R$ 1,2 milhão em
dois anos. Desse total, R$ 629.200 em 2010 e R$ 590 mil em 2009. Os valores se
referem à contratação de mão de obra para serviços de copa e cozinha e à
limpeza interna e externa. Este ano, a empresa já recebeu quase R$ 150 mil pela
prestação de serviços à PF do Rio. As informações foram obtidas pelo GLOBO numa
consulta a notas de empenho no Portal da Transparência mantido pelo governo
federal.
A empresa recebeu dos cofres federais R$ 39,4 milhões em
2011, sendo R$ 33,1 milhões apenas para a contratação de mão de obra. Foi
fornecedora, por exemplo, dos V Jogos Mundiais Militares, que reuniu atletas de
120 países no Rio. O maior cliente entre repartições federais em 2011 foi o
Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi): R$ 9 milhões.
Senadores e deputados colhem assinaturas para CPI
Ontem a oposição, na Câmara e no Senado, começou a recolher
assinaturas para a abertura de uma CPI mista com o objetivo de investigar o
esquema de fraude em licitações da área de saúde. Para ser instalada, a CPI
precisará do apoio de 171 deputados e 27 senadores. O governo é contra a CPI,
pois argumenta que não existe fato determinado e que a União,
administrativamente, já vem tomando medidas para coibir as fraudes contra o
SUS. O líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR), assegurou que a CPI pode
ficar restrita ao Senado, caso o Palácio do Planalto use a maioria na Câmara
para impedir o recolhimento do número mínimo de assinaturas.
Enquanto se discute a criação, ou não, de uma CPI da Saúde,
um outro projeto, que promete punir as empresas envolvidas em esquemas de
corrupção, deve ser votado, até a segunda quinzena de abril, pela Câmara dos
Deputados. Apresentado pelo governo em 2010, ele está pronto para votação numa
comissão especial. Uma vez aprovado, irá para o Senado. Segundo o relator da
proposta, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), a principal inovação é
responsabilizar as empresas na esfera administrativa e cível, quando um
funcionário ou representante, ainda que sem vínculo empregatício, participe de
negociata para trocar propina por contratos públicos:
- O projeto define as penas de multa, perda de contrato e
declaração de inidoneidade por cinco anos. Empresas que auxiliem as
investigações poderão ter as penas abrandadas.
O secretário-executivo da Controladoria Geral da União, Luis
Navarro, disse ao GLOBO que o projeto é fundamental para coibir a corrupção nas
relações entre poder público e iniciativa privada:
- Não importa se é o presidente da empresa ou um empregado
que pratica o suborno, a empresa será responsabilizada. É um passo decisivo no
combate à corrupção.
Advogados disseram na terça-feira que as empresas envolvidas
no esquema de corrupção denunciado pelo "Fantástico" podem não ser
punidos criminalmente. Apenas os funcionários que apareceram na reportagem
oferecendo propina é que podem responder por corrupção ativa, fraude em
licitação e formação de cartel nos inquéritos da PF .
- A pessoa jurídica não responde criminalmente, só em casos
contra o meio ambiente. Mas se for comprovado que os funcionários eram
instruídos a pagar propina pelos donos, se houver algum documento neste
sentido, os empregadores também podem responder - disse a advogada Márcia Lins.
Mais órgãos públicos anunciaram ontem a suspensão de
negócios com as quatro envolvidas no escândalo. A Câmara de Vereadores do Rio
afirmou que o contrato com a Locanty, que presta serviços de limpeza, vence no
fim do mês e não será renovado. Já a prefeitura do Rio e o governo estadual do
Rio estudam a melhor forma de cancelar os contratos sem prejudicar os serviços
oferecidos.
Estado estuda convocar o segundo lugar de licitações
A Procuradoria Geral do Município do Rio disse que vai
analisar somente os contratos com a prefeitura que estiverem em andamento, sem
verificar os de anos anteriores.
O Estado anunciou que Secretaria da Casa Civil está
estudando, com o auxilio da Procuradoria Geral do Estado (PGE), a melhor forma
de não prejudicar os serviços e uma das opções é convocar a empresa que ficou
em segundo lugar para assumir o contrato.
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